domingo, 27 de fevereiro de 2011

E viva o sanduba!



Sentar à mesa com familiares e amigos e desfrutar da comida caseira fortalece não só o organismo, como a cultura gastronômica da região em que se vive, além é claro, de estreitar laços afetivos. Perfeito, não? Mas porque fazemos tudo ao contrário? Tente entender o contexto socioeconômico que leva um cidadão a trocar tudo isso por um instantâneo emaranhado de ingredientes ricos em conservantes nada saudáveis, mas deliciosos, é claro.




Dizem que em meados do século XVII, o lorde inglês John Montagu estava faminto, mas não queria interromper seu carteado. Pediu para um criado que preparasse algo para comer que não sujasse suas mãos. Ele simplesmente colocou um pedaço de carne no meio de um pão e entregou ao amo, que adorou a praticidade e nunca mais jantou: passou a se alimentar apenas da mais nova invenção, batizada com o mesmo nome do distrito onde morava: Sandwich. 

Mal sabia o criado que acabara de inventar um dos maiores símbolos da cultura atual.

Adventos gastronômicos semelhantes surgiram em várias partes do mundo. Hoje, graças à globalidade, podemos provar fórmulas semelhantes criadas mundo afora sem precisar sequer nos locomover: hambúrgueres, quesadillashot-dogscalzones, beirutes, etc. Pressupõe-se que, salvo raras exceções tibetanas, a corrida contra o tempo independe da cultura.

Nas grandes (e nem tão grandes) cidades, fazer as refeições em casa é privilégio para poucos. E nem comendo em casa consegue-se escapar do sanduíche (também chamado de sande, em Portugal). 
Nas grandes metrópoles, pães, queijos, maionese e afins já superaram muitos insumos básicos, como grãos e macarrão, na lista dos produtos mais vendidos em supermercados.

Sanduíches são representações do intenso pragmatismo no qual a sociedade contemporânea está inserida. Analisando a vida pelo âmbito familiar, é muito difícil manter tradições seculares quando o estilo de vida sofreu mudanças bruscas. 
Nota-se que, com empregos cada vez mais longes de casa, inserção efetiva da mulher no mercado de trabalho e jornadas de estudos em tempo integral para as crianças, não sobra muito tempo para o fundamental, a razão-mor pela qual trabalhamos: comer. Contraditório, não?

O sanduíche é conhecido como uma “refeição curinga”, já que pode estar presente em qualquer hora do dia. Faz da mesa, antes um dos móveis mais importantes de qualquer casa, um objeto dispensável, quase que meramente decorativo. No jantar, os familiares tendem cada vez mais a pegar seus sanduíches e se espalharem cada qual em seu cômodo favorito. Seria algo para se preocupar ou uma mera mudança cultural?

Os mais nostálgicos se mostrarão avessos a esta prática, mas não há como negar que são deveras sedutoras. Características como a rápida sensação de saciedade, ingredientes variados, sabores mais que atraentes e praticidades logísticas como delivery e drive-thru, justificam, para muitos, o baixo valor nutricional ingerido. Comer um sanduíche é a escolha de milhões diariamente. 

Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial... Esse cardápio você já conhece.

(texto de Sergio Coletto)



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